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Foto do escritorLucas Chiquetto

"AWAY" - Meu ponto de vista 7,8/10 (COM spoiler)

Atualizado: 27 de set. de 2020



Quem me conhece sabe que sou apaixonado por assuntos ligados aos mistérios do espaço, e à possibilidade de existir vida fora do nosso minúsculo planeta Terra. Aqui abro um parêntese para lembrar a nossa tamanha insignificância em relação à imensidão do universo. Basta olhar fotos tiradas, da Terra, pelo satélite Hubble, que foi lançado em 1990 em direção a Júpiter. É um grãozinho de areia em meio àquela imensidão escura. Todos que amamos estão lá. Tudo o que temos está lá. Toda nossa história está lá… naquela minúscula estrela tão insignificante. É loucura imaginarmos que só tem vida ali. Pelo menos a vida que a gente tem capacidade de entender.


Bom, mas onde estávamos mesmo? Ah, sim, eu ia escrever sobre a nova série da Netflix, chamada Away, estrelado pela maravilhosa, talentosa e ganhadora de dois Oscars (Boys Don't Cry, de 1999, e Million Dollar Baby, de 2004), Hilary Swank. Ela vive Emma Green, uma astronauta americana que recebe um convite para comandar uma expedição internacional rumo a Marte. Mas, para embarcar nessa perigosa missão de quase três anos, ela vai precisar deixar seu marido e sua filha adolescente para trás.


Marte, gente. Nunca nenhum ser humano pisou lá antes. Eles vão mandar, de forma fictícia, claro, um grupo de pessoas para o planeta vermelho. Não é demais? Pra mim, completamente. Aliás, quero estar vivo para presenciar esse momento da nossa história, quando ele acontecer. Saudações a Elon Musk.


Confesso que os capítulos iniciais de Away, onde o foco era mostrar a relação da Astronauta Emma com o seu marido e a filha adolescente, em flashback, não foram tão empolgantes. A tripulação estava fazendo uma escala na lua (na lua, gente, como se fosse ponte aérea Rio X São Paulo. Simples assim). De lá, seguiram viagem para Marte, num percurso que demoraria oito meses para ser completado, de três anos de expedição. É aqui que começo a gostar mais, quando você para para pensar nas questões técnicas e psicológicas que podem envolver a viagem. Oito meses para ir e ainda terão mais oito meses para voltar. Eu me canso só de pensar nessa possibilidade, porque, não sei explicar ao certo, mas você passa a fazer uma comparação com viagens que vocês já fez na vida ou que possa vir a fazer. Numa ida do Brasil ao Japão, são 24 horas. Imagina oito meses?! Simplesmente impensável.


A história começa a ficar muito boa quando são apresentados os outros poucos personagens da tripulação, que são de nacionalidades diferentes, e que trazem uma diferença cultural bastante interessante à trama. Junto com a americana Emma, embarcam nessa jornada a química chinesa Lu (Vivian Wu), o botânico britânico Kwesi (Ato Essandoh), o copiloto indiano Ram (Ray Panthaki) e o engenheiro russo veterano Misha (Mark Ivanir). E fica melhor ainda quando você presencia uma crise entre eles na nave, já a caminho do planeta vermelho. Eu só ficava me perguntando, enquanto assistia: “Caramba, o que eu faria no lugar de Emma (a líder da nave) ?!”. Porque, logo no início, ela tenta “mostrar serviço” para a tripulação, tomando uma atitude incorreta e fora da sua área de experiência. Isso gera desconfiança da parte de Lu e Misha, que passam a ter atitudes condenáveis e desestabilizam o clima de cooperação da nave.



Havia comunicação constante da nave com a Terra, por meio de videoconferência - tão comum hoje em dia em tempos de pandemia -, até, então, chegarem próximos do destino. Naquela situação, a comunicação passa a ser por meio de mensagem que, quanto mais longe a nave ficava da terra, mais demorava para chegar. E durante todo o trajeto acontecem coisas que fazem você realmente se colocar na posição dos personagens e se perguntar: o que eu faria se estivesse naquela posição?! É empatia total, o que é muito interessante em Away. Nós, enquanto espectadores, presenciamos durante a trama um acidente vascular do marido de Emma, que o deixou numa cadeira de rodas; um namoro inesperado da filha adolescente, que sofre um acidente de moto; uma saudade imensa já considerando que são três anos que ficarão sem se ver. Fora os conflitos dentro da nave, de falta de confiança na liderança da personagem, uma certa tensão sexual entre a líder e o personagem indiano, Ray, entre outros coisas. Muito problema rolando para uma líder que precisa ter a inteligência emocional de focar no objetivo da viagem, que é chegar a Marte, dar o exemplo para os liderados durante toda a viagem e, ainda, tomar as decisões mais difíceis naquela jornada pioneira.


Se estava difícil para Emma, não era diferente para o restante da tripulação. Aqui, vou destacar dois personagens que me cativaram. Lu, a chinesa, nos mostra uma pessoa dura, com os outros e consigo mesma, que, durante a viagem, presencia uma situação muito desagradável e que fere a honra do seu povo: sua homossexualidade e sua relação às escondidas com uma mulher que trabalhava na Nasa, e que foi afastada do cargo pelo governo chinês, com medo do que iriam falar. Lu é casada com um homem e tem um filho.

Já Misha, o russo, nos mostra um senhor carrancudo e amargo, em função da sua relação mal resolvida com a filha. Depois da morte de sua esposa, ele a abandonou e a deixou ser criada por um casal de tios. Um arrependimento que se arrasta nos dia atuais e que fica mais acentuado durante a viagem, onde Misha acabando perdendo a visão por efeito colaterais da gravidade.


Para mim, do meio da série para o final, ficou bem interessante. Teve uma situação, em específico... duas, na verdade, que me deixaram aflito: a primeira delas é referente a um problema com o sistema de reciclagem de água da aeronave, que deixou de funcionar e, para piorar, o engenheiro que podia consertar estava ficando cego. E, para piorar ainda mais, a cápsula com os mantimentos que saíram da Terra em direção a Marte, sem tripulação a bordo, “explodiu” ao entrar na atmosfera do planeta vermelho. Sem água, a quase cinco meses de distância do nosso planeta, com suprimentos que demorariam meses para chegar. O que você faria? Apenas assista e veja o que acontece.


Away tem muitos pontos conflitantes e até questionáveis de narrativa. Mas, se tratando de pura ficção e considerando até uma certa ignorância da nossa parte, você deixa de questionar e apenas curte aquela situação, se colocando na pele dos personagens e nas situações que eles estão vivendo. Aliás, claramente, foram deixadas muitas perguntas sem respostas, para que sua continuação seja garantida em uma próxima temporada, ainda sem definição ou data.


Aproveitando, não sei se você sabe, mas a série foi inspirada no artigo “Away”, escrito para a revista Esquire, pela jornalista Chris Jones, que retrata a rotina do astronauta Scott Kelly, que estava totalmente envolvido numa missão que foi um dos primeiros passos na direção de uma visita humana a Marte.


A Netflix acertou mais uma vez, pelo menos para mim, produzindo uma série com um tema tão legal, misterioso e inspirador. E que venha a próxima temporada.


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